(para o amigo Marcelo)
imagem: Miró, El Carnaval de Arlequim
“Hoje é terça-feira
e todos meus amigos voam
com olhos de anis
com asas de fogo
e meus olhos cheios
de mágoa então”
Vanguart, em Semáforo
Já passou. Guardo um ramo de lembranças na parte esquerda do peito. Folhas suspensas no asfalto frio da memória. Grãos de areia que formam o deserto molhado da retina. O que vivi de belo preservo com o cuidado da mão leve sobre o cristal. O que vivi de belo preserva o melhor de mim no tempo.
Levo minha vida celebrando o passado e fazendo atualizações do presente. Não preciso citar na construção ligeira de um perfil o quanto já gostei de RPM ou li as letras de Guilherme Isnard como poesias. Quantas vezes me deparei sozinho em um show do Capital Inicial cantando desesperada e insanamente canções como Veraneio Vascaína ou Fátima. Não preciso contar que música em inglês para mim eram apenas Smiths ou U2 e variantes, ou quase nunca música em inglês, porque eu precisava saber exatamente o que estava sendo dito; hoje quero ter noção apenas do que sinto. Aliás, “só ouço o que me toca”. Não preciso citar minhas canções favoritas da Legião Urbana como as mais importantes da minha vida. Só preciso saber que as vivi intensamente, como quem visitou por raras vezes o parque num domingo de sol ao lado dos pais. Hoje vou ao parque ao lado de outras pessoas não menos importantes.
A minha primeira namorada foi tão importante quanto a última. Tão necessária para o que sou hoje como a professora Heliete da 4ª série. Tão fundamental para os meus dentes quanto o bochecho com flúor antes das aulas. Tão essencial para os bailinhos do ginásio quanto a prima que passou férias em casa e me beijou na boca aos 12. Eu recordo isso como um brilho eterno de uma mente com lembranças.
No universo da música construo relações de amor com o que considero que há de melhor. Minha opinião é individual e não quer fomentar verdade a quem quer que seja; muito menos fazer pose para chamar atenção. Pose é para quem não entende o movimento do próprio corpo. Passei há muito da fase de procurar a menina ideal pelos discos que ela tem em casa, hoje acredito que nossos discos precisam combinar em 25% ao menos. Não sou eu que estou menos seletivo, meu gosto restrito é que é abrangente. Uma frase emblemática como “só o rock é sobre amor” pode parecer discriminatória, mas no fundo representa apenas um elemento pessoal que alimenta e faz suscitar a paixão pela música. Considero meus gostos atuais como evoluções daquilo que conheci. Aquilo que vivi me preparou para aceitar o novo.
Não sou eu que vivo em um universo paralelo, é você querido e velho amigo, que não se dispõem a acompanhar o que nasceu e nasce após a nossa rica e perene geração coca-cola. E não me venha com a cega e ignorante resposta de que o que é produzido hoje não presta ou é tudo lixo. O entulho é formado pelo que nossos olhos não acessam e pelo que nossos ouvidos não permitem a visita. Ouvir rock da geração 00 é doar sabedoria em troca de energia e jovialidade. É como sentir o frescor do corpo de uma menina.
Algumas bandas e canções serão para sempre únicas, como únicos e eternos são alguns amores. E dentre eles, velho e querido amigo, o nosso.
Jânio Dias
Já passou. Guardo um ramo de lembranças na parte esquerda do peito. Folhas suspensas no asfalto frio da memória. Grãos de areia que formam o deserto molhado da retina. O que vivi de belo preservo com o cuidado da mão leve sobre o cristal. O que vivi de belo preserva o melhor de mim no tempo.
Levo minha vida celebrando o passado e fazendo atualizações do presente. Não preciso citar na construção ligeira de um perfil o quanto já gostei de RPM ou li as letras de Guilherme Isnard como poesias. Quantas vezes me deparei sozinho em um show do Capital Inicial cantando desesperada e insanamente canções como Veraneio Vascaína ou Fátima. Não preciso contar que música em inglês para mim eram apenas Smiths ou U2 e variantes, ou quase nunca música em inglês, porque eu precisava saber exatamente o que estava sendo dito; hoje quero ter noção apenas do que sinto. Aliás, “só ouço o que me toca”. Não preciso citar minhas canções favoritas da Legião Urbana como as mais importantes da minha vida. Só preciso saber que as vivi intensamente, como quem visitou por raras vezes o parque num domingo de sol ao lado dos pais. Hoje vou ao parque ao lado de outras pessoas não menos importantes.
A minha primeira namorada foi tão importante quanto a última. Tão necessária para o que sou hoje como a professora Heliete da 4ª série. Tão fundamental para os meus dentes quanto o bochecho com flúor antes das aulas. Tão essencial para os bailinhos do ginásio quanto a prima que passou férias em casa e me beijou na boca aos 12. Eu recordo isso como um brilho eterno de uma mente com lembranças.
No universo da música construo relações de amor com o que considero que há de melhor. Minha opinião é individual e não quer fomentar verdade a quem quer que seja; muito menos fazer pose para chamar atenção. Pose é para quem não entende o movimento do próprio corpo. Passei há muito da fase de procurar a menina ideal pelos discos que ela tem em casa, hoje acredito que nossos discos precisam combinar em 25% ao menos. Não sou eu que estou menos seletivo, meu gosto restrito é que é abrangente. Uma frase emblemática como “só o rock é sobre amor” pode parecer discriminatória, mas no fundo representa apenas um elemento pessoal que alimenta e faz suscitar a paixão pela música. Considero meus gostos atuais como evoluções daquilo que conheci. Aquilo que vivi me preparou para aceitar o novo.
Não sou eu que vivo em um universo paralelo, é você querido e velho amigo, que não se dispõem a acompanhar o que nasceu e nasce após a nossa rica e perene geração coca-cola. E não me venha com a cega e ignorante resposta de que o que é produzido hoje não presta ou é tudo lixo. O entulho é formado pelo que nossos olhos não acessam e pelo que nossos ouvidos não permitem a visita. Ouvir rock da geração 00 é doar sabedoria em troca de energia e jovialidade. É como sentir o frescor do corpo de uma menina.
Algumas bandas e canções serão para sempre únicas, como únicos e eternos são alguns amores. E dentre eles, velho e querido amigo, o nosso.
Jânio Dias
7 comentários:
Momentos
Fico triste, triste de ver que pessoas que conheci ainda trazem os mesmos traços do dia em que as conheci...Acho que "Virei gente grande" (Pequeno Principe) e perdi algumas coisas que não deveria perder. Hoje, para ser sincero, nem musica quero ouvir, na minha cabeça apenas a busca constante de como implementar algo em meu stressante trabalho...Siglas, números, termos em Ingles....CMMI,
PP, PMC, PA, MA, REQM, CM, reuniões, requisitos, planejamentos..meu Deus e EU ? Durmo o tempo todo como que para esquecer tudo isso por uns instantes e você amigo, ainda vive a musica...que inveja, inveja boa claro (se é que existe), espero um dia ainda poder sentar contigo e falar das velhas e novas bandas e musicas, sem preconceito e voltar a ser criança...
O tempo passa, o tempo voa, e a poupança Bamerindus,nem existe mais.Assim como também não existe mais o tempo que sobrava em tardes e noites de outrora.Assim como alguns amigos que se foram (cedo demais) e outros que tomaram um ônibus e ainda não retornaram para o nosso convívio...
Durante muito tempo ouvi de meus pais e de alguns amigos, que depois de Elvis e The Beatles não haveria mais música de qualidade no mundo, e, pasmem! Durante muito tempo eu cria muito nisso.Nos anos 80 tivemos uma explosão de bandas e coisas novas e, pasmem!!! (de novo!) boas bandas. Pena meus queridos pais não estarem mais encarnados para ouvir o que a geração que cresceu ouvindo Elvis e The Beatles foi capaz de fazer... O curisoso é que de 20 em 20 anos temos esta "discussão".Foi assim na década de 10 quando gravou-se o primeiro samaba e o pessoal dos anos 00 e anteriores disse que "aquilo" não era música. Na década de 20 explodiu-se o conecito de músicas padronizadas em tempo e discos de vinil (45 rotações) nos anos 40 foi a vez dos cantores com vozes de tenores (Silvio Caldas,Orlando Silva etc...) e nada do que tinha sido feito antes prestava...Depois pulamos para os anos 60 (e final dos 50) e as grandes vozes deram lugar as canções mais elaboradas, epara os mais velhos,Tom Jobim e João Gilberto não eram cantores nem aqui nem na China... O ostracismo dos anos 70 (bem verdade por conbta da repressão) não foi suficiente para calar as vozes dos gênios, vide Mutantes,Secos e molhados, Azimuth e o próprio Chico Buarque tiveram seus trabalhos reconhecidos.Mas a geração 80 quase que nega os 70 dizendo que depois dos anos 60 foram os melhores. Agora em 2000 temos a velha discussão de comparações das duas décadas (80 e 00)suprimindo até a importância dos 90.
Penso que é uma discussão infrutífera,até porque é passional.
É como ver " A doce vida" de Fellini e pensar que a cena da Fontana di Trevi,deveria ter sido diferente...
Não dá para comparar, hoje faríamos diferente...
No entanto,ainda penso que cada época tem seu valor e embora eu não seja um conhecedor de novidades (pela velha falta de tempo)ainda assim,penso que há valor em tudo que nos propomos a ver,ouvir e admirar.
um grande abraço
@lex!
RPM é legal, Legião é um clássico e o rock nacional, essencialmente, dos anos 80 é O rock de nossas vidas.
Você escreve muito bem sobre qualquer coisa, estou aprendendo um pouco com essas muitas linhas.
Beijos.
Oi, Jânio!!!
Adorei o novo blog... vc continua fazendo a diferença com cada linha...
Esse seu dom é fantástico!!!!
Te adoro
da sua candidata a cunhadinha... huahauhaua
Valeu, amigo, muito bom seu espaço. Parabens. Estarei indicando nas minhas páginas. E quando puder confira as novidades nas seções Guia de Poesia, Tataritaritatá, Música, Blogs, enfim, tudo isso na minha home page abaixo. Vou adorar sua visita e comentários.
Beijabrações, bom final de semana & tataritaritatá!!!
www.luizalbertomachado.com.br
"CONFESSO QUE VIVI"
ler todo o blog, muito bom
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