sexta-feira, 19 de outubro de 2007

De Onde Vem o Amor

(para Jou e Léo)
imagem: Juliana Araújo



“Your love is the place where I come from”

Teenage Fanclub, em Your Love Is The Place Where I Come From


Eles não precisam de muito para viver, não querem quase nada além do que já possuem. Nada aquém de pensamento positivo, do perfume sereno das flores, do instante mágico e intacto de uma fotografia, do encanto fértil da música, da verdade saliente das cores, e de simplicidade com amizade feliz.

Eles não precisam de muito, já têm um barquinho. Um cesto grande com coberta que esconde o sol e equilibra a chuva. Faz cama de sombra para o cão que nada como pato. Flutua sob as águas verdes do rio que descansa a busca do cansaço. Um motorzinho que empurra a vida para o encontro ausente do sossego. Um barquinho que têm dois bancos que transportam o corpo para a volta. O amor deles tem um barquinho fora do mar.

Eles não precisam de muito, já são donos de uma ruazinha. Uma rua pequena e estreita de mão dupla que cumprimenta a vida de estranhos transformando-os em velhos conhecidos. Um corredor humanitário que interage com as forças do meio social. Uma viela que salga o sorriso do andarilho que entrega cartas da civilização. Um portão sem calçada que se abre e adoça a imagem do forasteiro chegando. Uma passagem que é uma fenda que abraça o íntimo e a visita. Uma ruazinha que tem o chão revestido de cimento e o céu vestido de brigadeiro. O amor deles é uma ruazinha com endereço só de ida.

Eles não precisam de muito, já possuem diversas famílias. De tipos variados e de moradas diferentes. Pessoas aparentadas, herdadas ou escolhidas. De peles ou sotaques que se completam, como o sangue do simbolismo ou a aliança das veias. Como o compromisso das palavras e as línguas do coração. Como a raiz dos vocábulos e as folhas da adoção. Como o filho e a filha que ainda virão, como o pai e a mãe que sempre existirá. O amor deles é uma família formada de letras e sons que se apegam.

Eles não precisam de muito, já têm seus anéis simbólicos de casamento. Desenhos pelo corpo que os diferem, aproximam e se encaixam. Colorem e movimentam a vida da relação. Brincos pelas orelhas, nariz e sobrancelhas que se enroscam e mostram independência. Chaves para a caixa do desejo. Trancas da necessária e rigorosa lealdade. O princípio e o desfecho da composição romântica. A intenção marcada no corpo. O amor deles são desenhos e brincos que amparam o amor.

Eles não precisam de muito, possuem coisas pequenas e charmosas. Enfeites que realçam e promovem a alegria de estar. Pedras de cerejas coloridas no banheiro, um carrinho dos flinstones que é a casa do peixe barney, a gata maria luiza que faz carinho sem precisar pedir, essências naturais aromáticas que queimam e perfumam o ambiente, um pote de jujubas cor de vinho que desperta a vontade infantil de roubar balas, um colchão com muitas almofadas no piso da sala que escoram o corpo intruso, porta-retratos que são janelas para as lembranças de amanhã. O amor deles é uma casa pequena, quadriculada de listras e estampada de sol.

Eles não precisam de muito, vivem em uma ilha. Mas não uma ilha qualquer, isolada e cercada de água pelos lados, com palmeiras e pássaros cantando. O canto dos pássaros lá é o passeio tranqüilo e o retorno da saudação de bom dia. É uma ilha com moradas, com uma bicicleta com cesta com pães apoiada na entrada do bar, com ruas pequenas e sem nome para chamar de minha. O número 43 pode começar ao desembarcar do barquinho, e o 44 pode estar apenas duas retas e três curvas a frente. A calçada é o eco de seja bem vindo. Lá as ruas pertencem a todos, e mesmo não parecendo que todos vieram do mesmo lugar, os vasos de flores apoiados nas janelas das casas dão a impressão de terem o cuidado das mesmas cálidas e sofridas mãos. O amor deles é uma ilha de aconchego.

O amor vem de onde se produz amor.

Jânio Dias

10 comentários:

Anônimo disse...

Sim, o "amor vem de onde se produz amor", é isso...simples assim.
Nós complicamos tudo não é, queremos poder sair com os amigos ou a familia para jantar no sábado a noite, queremos um vinho e um queijo bem cortado para uma noite com amigos em casa, queremos aquela TV 29" para ver o musical do DVD, inclusive, precisa de um DVD e se tiver um Home, melhor ainda. E a geladeira com freezer para fazer bastante gelo para a caipirinha e gelar o ADES de tangerina ? Um computador para ver o blog do amigo querido, poder pagar a melhor escola para o filho, comprar os presentes para quem se ama, a roupa. Aquele show que precisa comprar o ingresso pelo telefone...bomluz, água e telefone (pagar por falr e ouvir)
CONTINUA...

Anônimo disse...

Enfim, precisamos de tudo isso ? Aiaiai...Fico feliz pela amiga Ju, a menina do Rio que encontrou sua felicidade em tão pouco quer na verdade é muito, mas sabe por que ? Porque a felicidade está em como vemos as coisas, na importancia que damos aos acontecimentos ao redor, em como sentimos a vida. Sentir a vida, esse é o segredo, se é numa ilha ou numa mansão, isso lá na frente, vira detalhe (ou não ???)
Lindo texto amigo Janio e muitas saudades da menina do Rio.
E nós ? Somos felizes ? O que temos realmente ?
Cada vez mais eu me convenso que nessa encarnação, a riqueza que vim acumular são os amigos...
Precisa de mais ? Não precisamos de muito...
Um grande abraço amigo !!!
ACABOU

Jânio Dias disse...

Ah, Amigo Paulo... adoro como você se manifesta nos comentários... são novos posts! Os do Alê também, tá quase um blog comunitário! E isso é ótimo. To adorando. Queria poder responder cada comentário de cada pessoa individualmente... mas ainda não sei qual é a mágica. Os comentários são hiper-importantes porque são um fator motivacional para continuar tentando...

Mas voltando ao tema, como cantaria a doce Fernanda no incrível Pato Fu...

"Vai diminuindo a cidade
Vai aumentando a simpatia
Quanto menor a casinha
Mais sincero o bom dia

Mais mole a cama em que durmo
Mais duro o chão que eu piso
Tem água limpa na pia
Tem dente a mais no sorriso

Busquei felicidade
Encontrei foi Maria
Ela, pinga e farinha
E eu sentindo alegria

Café tá quente no fogo
Barriga não tá vazia
Quanto mais simplicidade
Melhor o nascer do dia"

Acho que essa música complementa seu raciocínio.

Beijos!

Anônimo disse...

Nossa cara, lindo o que escreveu...
Fiquei aqui uns 10 minutos pensando no que escrever mas simplesmente n�o tenho palavras. Adorei...
Realmente o amor precisa de muito pouco, o amor est� em tudo, nas pequenas coisas e vem de dentro. � incondicional e sobrevive a tudo...

Parab�ns cara...

Anônimo disse...

"Quanto mais simplicidade, melhor o nascer do dia"...não precisa dizer mais nada né amigo Janio...o jeito é buscar o equilibrio, tentando não perder a simplicidade mas buscando o melhor para sua vida e conforto. O importante é ser feliz. O importante é que cada post ou comentário, faça com que todos pensem nos assuntos, dentro de suas proprias perspectivas de vida, respeitando todas as opiniões, e dando opiniões.
Isso é um blog (imagino eu).
Sejamos felizes, e continue escrevendo.
Abraços!!!

Anônimo disse...

Quando o amor se instala de maneira recíproca, ver beleza em tudo é inevitável.
Felicidade, carinho, amor, saudade, alegria à toa são constantes na vida dos amantes...
Essa sensação é boa... procuro senti-la novamente... e todos deveriam tentar!
Bjs, e vc sumiu do visite hein? Poxa...

Anônimo disse...

O amor está em acordar enlaçados, mesa do café para dois, carinho a qualquer hora, no silêncio e nas palavras, nos beijos insanos e nos beijos serenos. O amor está na simplicidade aqui e o tempo todo.

Beijos

Anônimo disse...

SER para TER ou Ter para Ser? este parece ser o novo mantra da vida moderna. Quanto mais temos,mais necessitamos e quanto menos somos,mais queremos ter...Eu quero uma casa no campo...eu quero uma estrada de Damasco...eu quero... eu quero... EU QUERO A SORTE DE UM AMOR TRANQUILO,COM SABOR DE FRUTA MORDIDA...
BEIJOS
@LEX!

Anônimo disse...

"A gente precisa de pouca coisa
Pra viver feliz e sossegado
Um barco à vela, um fogão de lenha
E uma cama limpa pra deitar
Qdo se está cansado.
Todo mundo nesse mundo
Deveria estar despreocupado
Falando pouco e pensando muito
Com uma pessoinha legal
Deitada do seu lado
Numa ilha
Numa ilha deserta
Onde o vento só ventasse
De vez em quando
Numa ilha, numa ilha deserta
Simplesmente vivendo e sonhando
Mas se as ilhas do mundo já têm dono
E você não entende bem por quê
Separe tudo o que lhe faz falta
E guarde bem guardado
Numa ilha dentro de você
E lá ninguém te segura
E lá ninguém te põe a mão"
(Zé Rodrix)

Anônimo disse...

ler todo o blog, muito bom