imagem: by Sylvia Ji, Garden of Sin
“And I awake from dreams
To a scary world of screams”
Jesus and Mary Chain, em Darklands
To a scary world of screams”
Jesus and Mary Chain, em Darklands
Quando te vi pela primeira vez, vislumbrei ao beijar-te com um singelo toque no rosto complementado de um imprevisível abraço, o cheiro latente de mulher hábil e experimentada, provocante e requintada, dessas que desafiam suspiros desesperançosos e galanteios obscenos por onde passa.
Naquela noite você usava salto alto, o que me fazia sentir um individuo nanico, um ser visto abaixo do seu nariz, que já procurava roubar seu ar mesmo sem conhecê-la, capaz apenas de contemplar tamanha formosura com olhares que se revezavam entre a margem carnuda de sua boca e a sede do mistério do seu olhar. Ainda hoje seus olhos são um culto secreto cuja porta de entrada é inacessível. Sua beleza era tão radiante que chegava a cegar qualquer resquício de juízo, tão imponderável que o novo ocultava qualquer presença de culpa ou pecado.
Nossas conversas fluíam fáceis como se sentissem atraídas, como que compartilhassem as mesmas sensações de alegrias e incertezas percorridas pela vida. Nossas conversas entreolhavam-se com interesses lascivos e secretos.
Não me preocupava em conhecer detalhes de onde vinhas nem se iríamos para algum lugar. Perturbava-me apenas a dúvida da liberdade de poder abraçá-la longa e publicamente, de acariciar-lhe as mãos e de estalar seus dedos quando estivesse distraída, de dirigir com vidros abertos e perceber o vento desalinhando impetuosamente seu cabelo.
Não me visitava a possibilidade das conseqüências de uma aventura errante.
Subitamente a paixão instalou-se de forma desenfreada e explosiva. Mal nos conhecíamos e já estava conhecendo suas sobrinhas e gatos. Eu pouco sabia do bairro onde mora e já te buscava na faculdade. Sua mãe nem sabia ao certo como eu me chamava e já preparava minha sobremesa preferida. Meus amigos mais íntimos a recebia em casa e a convidava para passeios. Minha mãe não trocou seu nome quando a conheceu. Você se tornou um hábito dominador.
Parecia que existíamos para o outro há décadas, que havíamos crescido e brincado na mesma escola e que nossas famílias sempre haviam sido amigas nessa vida. Sentia como que sempre estivesse estado presente e soubesse - não sabendo - nosso destino certo.
Agora parece que a ressaca de nosso amor encontrou os obstáculos que o impedem de seguir. Descobriu que qualquer vida tem seus passados de brilhos rústicos ou sombrios imaculados, e que qualquer nova história só será forte e terá valor se souber lidar de forma matura com esses aspectos e adversidades. E a maturidade parece ainda não ter se apresentado para nós.
A descoberta indesejada da vida passada de alguém será sempre uma mancha cinza e dolorosa na lembrança de quem você é antes de conhecer o outro.
Hoje em dia quando te olho, uma luz frouxa se aproxima e afasta com raiva a beleza dos tempos afortunados em que nos conhecemos. Uma sensação de insatisfação com o caminho percorrido me absorve pelos dentes e adormece qualquer indício de sentido do meu corpo. Os acontecimentos que existiram antes de nós tornaram-se nossa derrota.
E desde que éramos crianças, eu só queria ter sido seu domingo de sol.
Jânio Dias
Naquela noite você usava salto alto, o que me fazia sentir um individuo nanico, um ser visto abaixo do seu nariz, que já procurava roubar seu ar mesmo sem conhecê-la, capaz apenas de contemplar tamanha formosura com olhares que se revezavam entre a margem carnuda de sua boca e a sede do mistério do seu olhar. Ainda hoje seus olhos são um culto secreto cuja porta de entrada é inacessível. Sua beleza era tão radiante que chegava a cegar qualquer resquício de juízo, tão imponderável que o novo ocultava qualquer presença de culpa ou pecado.
Nossas conversas fluíam fáceis como se sentissem atraídas, como que compartilhassem as mesmas sensações de alegrias e incertezas percorridas pela vida. Nossas conversas entreolhavam-se com interesses lascivos e secretos.
Não me preocupava em conhecer detalhes de onde vinhas nem se iríamos para algum lugar. Perturbava-me apenas a dúvida da liberdade de poder abraçá-la longa e publicamente, de acariciar-lhe as mãos e de estalar seus dedos quando estivesse distraída, de dirigir com vidros abertos e perceber o vento desalinhando impetuosamente seu cabelo.
Não me visitava a possibilidade das conseqüências de uma aventura errante.
Subitamente a paixão instalou-se de forma desenfreada e explosiva. Mal nos conhecíamos e já estava conhecendo suas sobrinhas e gatos. Eu pouco sabia do bairro onde mora e já te buscava na faculdade. Sua mãe nem sabia ao certo como eu me chamava e já preparava minha sobremesa preferida. Meus amigos mais íntimos a recebia em casa e a convidava para passeios. Minha mãe não trocou seu nome quando a conheceu. Você se tornou um hábito dominador.
Parecia que existíamos para o outro há décadas, que havíamos crescido e brincado na mesma escola e que nossas famílias sempre haviam sido amigas nessa vida. Sentia como que sempre estivesse estado presente e soubesse - não sabendo - nosso destino certo.
Agora parece que a ressaca de nosso amor encontrou os obstáculos que o impedem de seguir. Descobriu que qualquer vida tem seus passados de brilhos rústicos ou sombrios imaculados, e que qualquer nova história só será forte e terá valor se souber lidar de forma matura com esses aspectos e adversidades. E a maturidade parece ainda não ter se apresentado para nós.
A descoberta indesejada da vida passada de alguém será sempre uma mancha cinza e dolorosa na lembrança de quem você é antes de conhecer o outro.
Hoje em dia quando te olho, uma luz frouxa se aproxima e afasta com raiva a beleza dos tempos afortunados em que nos conhecemos. Uma sensação de insatisfação com o caminho percorrido me absorve pelos dentes e adormece qualquer indício de sentido do meu corpo. Os acontecimentos que existiram antes de nós tornaram-se nossa derrota.
E desde que éramos crianças, eu só queria ter sido seu domingo de sol.
Jânio Dias
7 comentários:
Caro amigo Jânio. Seu texto é por demais pessoal.Uma catarse diria.Então o comentário não será sobre ele em geral,mas sobre uma frase em particular:...E desde que éramos crianças, eu só queria ter sido seu domingo de sol....Esta frase,é uma daquelas que guardarei em algum canto da mente, e quando o alzeihmer chegar,repetirei-a aos quatro ventos...um beijo amigo.
E não se esqueça"acima de tudo,somos amigos". Se precisar,conte comigo..@lex!
Meu amigo...é impossível não se assustar com a profundidade do que escreveu, e saiba que você tem amigos, não precisa guardar tudo sozinho no peito, afinal, os amigos não servem só para beber, até pq, eu não bebo mesmo, mas conte comigo
Beijo
Num tempo um pouco distante dizíamos: Força Sempre!
Se precisar de qualquer coisa estarei a postos!
um super beijo.
VEGA POCKET SHOW
Dia 17/02-DOMINGO
Pocket show do Vega na Saraiva Paulista.
Horário: 19:00H
Livraria Saraiva Shopping Paulista
Rua Treze de Maio, 1.947 - Paraíso - Piso Térreo 13 de Maio
São Paulo - SP
****Borá lá Jânio?**** bjs RE
Nossaaaaaaaaaaa... sempre que venho aqui, é indescritível a sensação... arrasa muito e arrasa sempre!! Caramba, to meio perdida...
Bjitos!
tive a ligeira esperança de comentar seu post pessoalmente ontem no pocket Vega, pena que eu fiquei sem celular no fds! Vou deixar o tal comentário para a oportunidade que nos encontrarmos! estou em SP nos fds, aos domingos certezaaa! vamos marcar algo?
bjs
Rapaz,
que texto bonito: expressões fortes, sensíveis e, até nostálgica.
Sobressai, para mim, a escolha: essa vamos fazendo no dia-a-dia, e, nela, vejo-me. Às vezes gosto noutras penso que deveria ter feito outro caminho. É por aí...
Um abraço
Jacinta
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