imagem: Agatha Katzensprung
“In the moonlight
you'll dance 'til you fall,
and always be here in my heart”
Travis, em Follow The Light
I
Da primeira vez que a vi, ela estava em uma festa, ou melhor, em uma celebração. Celebração da alegria juvenil revestida de amizade.
Amizade adolescente, docemente ingênua e irresponsável. Ela estava lá, docemente responsável.
- A bandeira do Brasil é sagrada, não faz isso menino. Ele não fez; acho que mesmo sem saber o que fazia.
Lá estava ela, entre a seriedade e o clima feliz da festa. Olhou em minha direção como quem percebe algo diferente na sala de casa. Para minha própria surpresa, joguei-lhe um afoito sorriso. Tendo certeza de que era com ela, desviou o rosto vermelho de inverno, para em frações de segundos que se sente na aceleração do coração, devolver-me um semblante protegido e altivo.
Algum amigo seu acena e nossos olhos se desviam.
O volume do som aumenta como convite para que as pessoas parem de conversar.
Sentindo-me alheio entre tantas pessoas desconhecidas, limitei-me a ficar por perto, algo como um discreto estranho a observá-la. Contente, ela dançava e cantava celebrando. Aproximei-me um pouco mais, e lhe joguei outro sorriso, mas ela continuou dançando e cantando.
Não me movi e fiquei quase uma canção inteira respirando seus movimentos. Como se eu fosse puxado por uma das mãos, passei a cantar e dançar também. Os braços balançavam desajeitados, os pés quase que se desprendiam do chão, a letra da musica guiada por tantas vozes era quase uma oração, e tantas outras bocas em volta complementavam um suposto balé de expressões faciais.
O volume diminui, o vinil parece estar sendo trocado.
Um amigo meu acena e nossos olhos se encontram.
Alguém nos apresenta, não presto atenção ao seu nome. Falamos rápido, atropelando uma seqüência óbvia de apresentações. Substituímos o “onde você mora” por brevidades sobre a última música, a música preferida, a próxima canção. Nossos lábios brilham os batimentos de nossos ouvidos.
Um silêncio repentino de olhares se faz e comento sobre a bandeira.
- Você viu, o menino parecia querer cheirar as estrelas do cruzeiro do sul. Fala com as sobrancelhas irritadas.
Mais rápida do que eu poderia raciocinar, me faz um convite: - “Entra para o nosso fã clube”. Fico desconcertado. Lisonjeado. Não entrarei; pertenço a um outro grupo de Amigos. A imagem congela.
Um grupo de pessoas a tira de perto, outras falam comigo. Tudo bem, tenho que aceitar, estava ali para conhecer o pessoal daquele outro fã clube da Legião. O que se deseja não demora a acontecer, havia lido em algum livro do suposto talento da literatura contemporânea nacional. Nossos olhos se encontrarão em outro momento.
A noite passa veloz. A aurora do galo roseia o céu. É hora de ir embora.
Momento de despedidas. Apertos de mãos, abraços, sorrisos suspensos sob uma lua que já se despediu.
- Até outro dia. Ouço ao longe. Retorno o corpo, giro rápido o olhar. Lá está ela, imóvel. Congelo outra vez a imagem.
– Venha mais vezes, volte quando quiser.
Mal a vejo dos degraus de onde avisto uma mão a desenhar um tchau em retirada. Retribuo com um aceno seco, um sorriso pálido e lento, sem certeza dos passos que preciso dar para ultrapassar a linha do portão.
A festa acabou. A rua é uma língua longa e fria que clareia devagar, mas não junta pedras espalhadas.
Vou embora, sem saber seu nome.
Jânio Dias
you'll dance 'til you fall,
and always be here in my heart”
Travis, em Follow The Light
I
Da primeira vez que a vi, ela estava em uma festa, ou melhor, em uma celebração. Celebração da alegria juvenil revestida de amizade.
Amizade adolescente, docemente ingênua e irresponsável. Ela estava lá, docemente responsável.
- A bandeira do Brasil é sagrada, não faz isso menino. Ele não fez; acho que mesmo sem saber o que fazia.
Lá estava ela, entre a seriedade e o clima feliz da festa. Olhou em minha direção como quem percebe algo diferente na sala de casa. Para minha própria surpresa, joguei-lhe um afoito sorriso. Tendo certeza de que era com ela, desviou o rosto vermelho de inverno, para em frações de segundos que se sente na aceleração do coração, devolver-me um semblante protegido e altivo.
Algum amigo seu acena e nossos olhos se desviam.
O volume do som aumenta como convite para que as pessoas parem de conversar.
Sentindo-me alheio entre tantas pessoas desconhecidas, limitei-me a ficar por perto, algo como um discreto estranho a observá-la. Contente, ela dançava e cantava celebrando. Aproximei-me um pouco mais, e lhe joguei outro sorriso, mas ela continuou dançando e cantando.
Não me movi e fiquei quase uma canção inteira respirando seus movimentos. Como se eu fosse puxado por uma das mãos, passei a cantar e dançar também. Os braços balançavam desajeitados, os pés quase que se desprendiam do chão, a letra da musica guiada por tantas vozes era quase uma oração, e tantas outras bocas em volta complementavam um suposto balé de expressões faciais.
O volume diminui, o vinil parece estar sendo trocado.
Um amigo meu acena e nossos olhos se encontram.
Alguém nos apresenta, não presto atenção ao seu nome. Falamos rápido, atropelando uma seqüência óbvia de apresentações. Substituímos o “onde você mora” por brevidades sobre a última música, a música preferida, a próxima canção. Nossos lábios brilham os batimentos de nossos ouvidos.
Um silêncio repentino de olhares se faz e comento sobre a bandeira.
- Você viu, o menino parecia querer cheirar as estrelas do cruzeiro do sul. Fala com as sobrancelhas irritadas.
Mais rápida do que eu poderia raciocinar, me faz um convite: - “Entra para o nosso fã clube”. Fico desconcertado. Lisonjeado. Não entrarei; pertenço a um outro grupo de Amigos. A imagem congela.
Um grupo de pessoas a tira de perto, outras falam comigo. Tudo bem, tenho que aceitar, estava ali para conhecer o pessoal daquele outro fã clube da Legião. O que se deseja não demora a acontecer, havia lido em algum livro do suposto talento da literatura contemporânea nacional. Nossos olhos se encontrarão em outro momento.
A noite passa veloz. A aurora do galo roseia o céu. É hora de ir embora.
Momento de despedidas. Apertos de mãos, abraços, sorrisos suspensos sob uma lua que já se despediu.
- Até outro dia. Ouço ao longe. Retorno o corpo, giro rápido o olhar. Lá está ela, imóvel. Congelo outra vez a imagem.
– Venha mais vezes, volte quando quiser.
Mal a vejo dos degraus de onde avisto uma mão a desenhar um tchau em retirada. Retribuo com um aceno seco, um sorriso pálido e lento, sem certeza dos passos que preciso dar para ultrapassar a linha do portão.
A festa acabou. A rua é uma língua longa e fria que clareia devagar, mas não junta pedras espalhadas.
Vou embora, sem saber seu nome.
Jânio Dias
4 comentários:
Eu poderia dizer "bela inspiração", mas prefiro dizer "belo trabalho". Você escreveu um texto muito "gostoso" de se ler.
Um abraço.
Dessa vez não demorei pra voltar!!! Viva o Twitter!! rs
Adorei a narrativa do capítulo "I", espero os próximos... até descobrir o nome dessa legionária!!! beijos e boa semana amigo Jânio!!!
Dauri Amigo... Obrigado! Apesar de ser mais "transpiração" que "inspiração", sempre há um fiozinho condutor biográfico. Coisa pouca, mas sempre há. Grande Abraço!
Re!!! Então o twitter serve para alguma coisa?!!!? Quanto aos capítulos, não vou criar mistério não; odeio novela! Beijos!
Jânio, até eu fiquei curiosa pra descobrir o nome dela... Lindo texto, amigo. bjs
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