domingo, 2 de dezembro de 2007

Azul Olímpico

imagem: Small Blue Head, 1998 by Graham Dean

“Olha lá quem sempre quer vitória
E perde a glória de chorar”

Los Hermanos, em O Vencedor


A segunda-feira, a segunda série, a segunda chance, a segunda dor, a segunda cruz, a segunda vez, o segundo voto, a segunda descoberta, a segunda via, a segunda rua, a segunda roda, a segunda bola, a segunda bicicleta, a segunda rabeira, o segundo carro, o segundo defeito, a segunda mania, a segunda alegria, a segunda celebração, a segunda amizade, a segunda intenção, o segundo telefonema, a segunda conversa, a segunda boca, o segundo olhar, o segundo beijo, o segundo doce, a segunda cama, a segunda gaveta, a segunda primeira vez, o segundo trago, a segunda dose, o segundo copo, o segundo ato, o segundo quadro, a segunda derrota, a segunda tensão, o segundo tesão, a segunda bebedeira, a segunda alternativa, a segunda vitória, o segundo milagre, a segunda fé, o segundo dente, a segunda mão, a segunda face, o segundo fio, o segundo pelo, o segundo tapa, o segundo tropeço, o segundo suspiro, o segundo segundo, o segundo lado, a segunda sede, a segunda parte, a segunda pátria, a segunda escola, o segundo escoteiro, o segundo sinal, o segundo parto, a segunda união, a segunda à direita, a segunda à esquerda, de segunda mão, a segunda pergunta, a segunda resposta, o segundo hábito, o segundo tapete, a segunda dança, a segunda mesa, a segunda ceia, a segunda santa, o segundo acaso, a segunda namorada, a segunda alma, a segunda marca, o segundo caso, o segundo canto, o segundo agudo, a segunda dispersão, o segundo amigo, o segundo irmão, a segunda Maria, a segunda flor, o segundo sol, a segunda lua, a segunda água, o segundo raso, a segunda noite, a segunda diversão, o segundo sentido, o segundo caminho, o segundo desvio, a segunda tristeza, a segunda margem, o segundo dia, a segunda banda, a segunda bala, o segundo calibre, o segundo tempo, a segunda chuva, o segundo feito, a segunda barreira, o segundo emprego, a segunda caixa, o segundo sapo, a segunda queda, o segundo grito, o segundo lugar, a segunda esperança, a segunda tentativa, a segunda mesa, a segunda casa, a segunda bebida, a segunda sexta, a segunda lágrima, o segundo verso, a segunda linha, a segunda escolha, a segunda história, a segunda canção, a segunda memória, o segundo antes, o segundo depois, o segundo enquanto, o segundo branco, o segundo vermelho, o segundo azul, o segundo preto, a segunda tempestade, o segundo início, o segundo meio, a segunda borboleta, o segundo frame, a segunda notícia, o segundo palpite, a segunda certeza, a segunda vela, a segunda reza, a segunda terra, a segunda emoção, o segundo retorno, a segunda mãe, a segunda irmã, o segundo filho, a segunda geração, o segundo filme, o segundo livro, o segundo autor, o segundo personagem, o segundo flash, o segundo choro, o segundo berro, a segunda cura, o segundo excesso, o segundo gosto, o segundo amargo, o segundo conceito, o segundo aceito, a segunda morte, o segundo enterro, o segundo campo, o segundo acesso, o segundo rolando, o segundo jogo, a segunda decepção, a segunda realidade, o segundo velório, a segunda decisão, o segundo saber, o segundo recuo, o segundo profundo, a segunda ilusão, a segunda taça, a segunda pílula, a segunda seita, a segunda pelada, o segundo jogador, a segunda posição, o segundo time, o segundo coração, a segunda vida, o segundo fim, o segundo nada.

O segundo que passou eterniza o próximo.

Parabéns Corinthians pela Segunda Divisão.


Jânio Dias

domingo, 25 de novembro de 2007

O Livro dos Dias (ou Temporada das Flores)

imagem: Malevich Inspired by Jung Sook Nam


“Será que você vai saber
O quanto penso em você com o meu coração?”

Legião Urbana, em O Descobrimento do Brasil


Eu acho que desci os seis lances de escadas que separam o teatro do
Centro Cultural do Banco do Brasil no centro velho de São Paulo do seu térreo apenas para que o vento batesse em meu rosto e secasse as lágrimas ainda úmidas. Acho que evitei a companhia de Marcelo Rubens Paiva no elevador para que ele não percebesse meus olhos vermelhos e incontrolavelmente marejados.

Foi meu terceiro contato com o, digamos, dilacerante espetáculo
Renato Russo – A Peça, e ainda não me acostumei aos efeitos colaterais causados por ela.

Na primeira vez, lá em setembro, viajei até a cidade de Santos para conferir o espetáculo no gigante teatro Coliseu, com características barrocas. Um abrigo perfeito para o ego do artista que ali seria reconstituído. Era especial para mim ir até lá, havia presenciado duas apresentações da Legião Urbana naquela cidade, e a última vez havia coincidido de forma desastrosa com a história do último show da vida da banda. Ao final da peça, só sabia bater palmas ininterruptas para o talentoso ator Bruce Gomlevsky que interpreta e encarna de forma assustadora e convincente a alma e o espírito do poeta e cantor Renato Russo. Acho que fui a última pessoa a dar as costas para o palco do Coliseu naquela noite. Estava incrédulo com o que havia visto. Era incrédulo o que sentia.

O segundo e terceiro contato com a peça foi ontem e sexta, aqui na capital. Teatro pequeno, capacidade para 125 testemunhas apenas, quase uma apresentação fechada. Um convite para assistir com o rosto entre a janela da casa e o quintal da saudade da complexa, rica, dolorosa, lírica e atormentada alma do artista quando jovem.

Bruce Gomlevsky não canta bem, mas impressiona e marca a pele e a memória do espectador com gestos, jeitos, e olhares de um Renato Russo de carne e sentimentos tão vivos quanto o ator que aperta a mão de quem está na primeira fileira. Aproveita-se só um pouco do humor ferino do Renato para torná-lo o melhor amigo outra vez. Planta em mim a curiosidade de saber qual o meu ascendente ou pense no meu mapa astral. Faz as pessoas rirem como se ele nunca tivesse sido visto como um ser dramático, mas sim como comediante romântico. Faz eu senti-lo com o coração; o coração de quem viveu intensamente as histórias, as entrevistas, as dúvidas, as expectativas do novo disco e do próximo show. Faz eu ter vontade de dançar com a minha própria sombra. Mostra como híbridos são meus sentimentos e constante é a incoerência humana. Escancara nos rostos das pessoas a dor de quem não escolheu o sofrimento como opção. Inevitáveis são a perda e a partida.

Inevitáveis também parecem ser os efeitos colaterais do espetáculo. Algo tão dramaticamente belo, tão rico em detalhes que sempre figuraram a imaginação coletiva dos fãs, tão sincero e ético como toda homenagem póstuma deveria ser, ainda assim, machuca o coração de quem esteve tão perto. Agita e ferve a cabeça de quem só ouviu falar. Embaralha as lentes de quem só descobriu agora. É uma sensação que vem para reviver aquilo que se perdeu e lembrar o que poderia ter sido. Sensação que não sabe para onde vai depois que chega. É uma saudade cheia de preces.

Chega a ser difícil encarar o Renato Russo de Bruce Gomlevsky nos olhos. Ele é atormentado, carrega o mundo nas costas em forma de dor; é solitário e busca o sentido da vida em um novo amor. O amor é tempo que acalma a vida e esta é incompreensível. A vida dele é amor e assim como o tempo, ambos são fugazes. O olhar de Bruce Gomlevsky é persuasivo. O Olhar de Renato Russo também.

Hoje está difícil olhar para o quadro com a fotografia de um show na parede do quarto.

É mais fácil morrer para se sentir fantasma e ter coragem para perguntar sobre o título daquela canção; ou mesmo, assim, como velhos amigos, “como vai a vida, Renato?”.


Jânio Dias

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Sol no Coração

imagem: Gecko, 1998 by Vivika Alexander


“Quando o sol me iluminar
Estrela de calor e luz
Vem me acordar
Eterna como a vida é
Sempre a acabar”

Astromato, em
Sonhos de Alta Definição


Tem dias em que procuro o sim. Desencontro-me dos motivos de desistir e da condição de negar. Abraço um perfume cor de jasmim, beijo uma corrente de ar no corredor do quintal, desloco o queixo branco sobre lírios roxos no muro da vizinha. Convido as pombas na garagem para passear, cumprimento o cão com uma batida no peito. Faço continência para o gato preguiçoso deitado sobre a boca do poço.

Conto as folhas da árvore no chão e penso na sutileza e na fúria dos ventos que as derrubaram. Pego a mangueira d’água e esguicho meu nome sobre as plantas. Não meço a quantidade de água que desperdiço no quintal, estou matando a sede da terra.

Não me preocupo com a porta aberta da geladeira, não controlo a luz da lâmpada acesa no banheiro, não verifico se desliguei o gás do fogão ou tranquei a porta da cozinha, deixo a cortina desalinhada e a janela entreaberta; não cuido da casa, minha casa é que cuida de mim.

Enrolo uma canção num guardanapo e deixo sobre o capô de um carro vermelho qualquer. Esqueço um livro de bolso no banco do metrô, ofereço o guarda-chuva para a velhinha que vai atravessar a rua. Grito com o farol amarelo: “você não sabe, mas é laranja”.

Afogo o pãozinho com margarina na caneca de café da padaria repleta de pessoas estranhas vestidas com ternos escuros e mulheres elegantes com seus saltos agulha de furar gelo. O pãozinho com margarina afoga minha diferença de classe.

Peço licença ao morador de rua para tirar uma foto de seu abrigo. Seus tapetes são papelões de fogo. Suas cobertas é o fogo em forma de papelão. O vento que passa por ali cheira a querosene. O clique da foto provoca combustão temporária no coração. Seu sorriso de janelas abertas é o consentimento da licença para pisar na calçada de sua morada. Suas marcas no rosto é o fluxo luminoso da vida que passa ausente de concessões.

Quando a menina branca de sardas atravessa o portão de casa vejo uma criança sapeca e radiante correndo de braços abertos na minha direção. Ela se joga contra meu corpo, me beija e me abraça com ternura imaculada. Quando a mesma menina atravessa a porta de casa, as paredes viram-se de costas, o chão afasta a mesinha de centro, o sofá se desloca para o outro canto, o tapete fica maior e colorido, o batente da porta do quarto estica-se, a cama não espera nossa chegada. Essa menina é ninfa que desaloja a casa. Quando ela está em casa, a cidade se ausenta para nós.

Tem dias que digo sim para a vida.

Tem dias que não procuro o caminho curto, o tropeço certo. Desvencilho-me do andar trôpego, desato as cordas da rua, solto o ar dos pulmões no precipício mais perto. Ralo os calos dos pés, enxugo as feridas das mãos, seco as lágrimas da camisa verde. Imponho no peito a insígnia da fé. Tem dias que digo sim para o que vier a frente.

Tem dias que aproximo o aconchego de velhos amigos.

Tem dias que não repercuto a falta. A justificativa de quem não veio, a desculpa de quem perdeu o endereço. O descuido com a história, o descaso com o amor. Não culpo quem me esqueceu; perdôo quem me negou. Tem dias que sou indulto.

Meus dias ardem. Tem tarde. Querem arte.

Tem dias que carrego sol no coração.


Jânio Dias

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Chuva no Coração

imagem: Martin Kenny


“Eu quis querer o que o vento não leva
Prá que o vento só levasse o que eu não quero
Eu quis amar o que o tempo não muda
Prá que quem eu amo não mudasse nunca”

Paralamas do Sucesso, em Um Pequeno Imprevisto


Eu tinha certeza que hoje choveria. O sol não nasceria em respeito, faria um dia ou mais de silêncio. Não tocaria os sinos das janelas das casas, não entraria pelas fendas estreitas dos telhados. Cederia sua imponência à bebedeira do céu.

Hoje choveria, eu tinha certeza.

Ao olhar para o firmamento do céu lembraria do amigo que não saia da minha casa quando menino pequeno. Das nossas idas à cachoeira em dias de calor intenso, do olhar parado observando em silêncio ou evitando o futuro junto à queda d’água. Das batalhas no campinho de terra que virava lago de lama vermelha quando chovia. Do concreto escaldante da quadra da escola e do alívio das chuvas de janeiro. O amigo de infância faz falta em dias de chuva.

Eu achei que hoje ao abrir os ouvidos enxergaria gotas ácidas de lembranças celestes no quintal. Tomariam formas das manhãs ausentes de preocupações como nos dias que não havia aula (Se o meu amigo ainda não estivesse aparecido em casa, eu iria até a casa dele com a bola embaixo do braço). Formariam poças inquietas de carrinhos disputando corrida sob chuva com pneus de plástico mesmo (Os carrinhos de bateria ou autoramas eram sonhos inalcançáveis na tv). O chão estaria inflamado convidando para um passeio de bolinhas de gude no céu (As pipas estariam em baixo da cama esperando o sol sorrir).

Hoje ao levantar, imaginei que ao olhar o céu desceriam lembranças carinhosas e corrosivas. Que o café que estava pronto na garrafa havia sido feito pela minha mãe e que ao subir a escada de cinco degraus até a sala, encontraria meu pai assistindo ao seu programa sertanejo preferido. Eu não brigaria com ele para ver o desenho do pica-pau porque ele só fazia aquilo quando podia estar descansando naquele sofá. O tio, a tia e os primos estariam vindo para almoçar em casa após quatro conduções e três horas de viagem. A saudade do que não existe mais é um fio fino, frio e corrosivo.

Ontem ao deitar, pensei que hoje assistiria pelas frestas da cortina a um show de pingos incessantes de poesia caindo no quintal. Pingos que tornam a vida ainda mais molhada, como a carta da menina amada que diz que esteve nos últimos dias pensando muito em mim, “nada de mais” ela frisa, apenas pensando sem saber o porquê; como a ligação do amigo enfatizando que precisamos nos ver antes do ano acabar, o e-mail da amiga que confirma a ida ao teatro sem confirmarmos a data, ou a ligação do outro amigo avisando que não irá em casa porque irá jogar futebol em outra cidade. Os pingos que caem do céu são o apego às pessoas que amamos em forma de reticências molhadas.

Agora, enquanto exponho o coração às linhas desniveladas do tempo, estico o olhar pela janela e quase que posso sentir o cheiro do vento embriagado que passa avisando que vai chover, sim. Quase que posso sentir meu cabelo se mexer com a corrente fresca de ar que invade o quarto. Talvez seja aviso falso, pois há nuvens brancas e espessas como algodão doce lá em cima; e o sol colori todo o resto de amarelo constante. Mas nada muda a sensação aqui dentro, de inverno que se instalou em forma de distância e amor.

Em dias como o de hoje, com chuva ou sol, meu coração é úmido como meu choro.

Jânio Dias

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Onde Está a Poesia

imagem: Where Angels Dance, 2005 by Lee Campbell


“E quando chega o fim do dia
Eu só penso em descansar
E voltar prá casa, pros teus braços
Quem sabe esquecer um pouco
Do pouco que não temos
Quem sabe esquecer um pouco
De tudo que não sabemos”

Legião Urbana, em Música de Trabalho


Eu levanto pela manhã sem acordar, sem abrir os olhos, com vontade de encurvar a coluna outra vez e bater o rosto contra o travesseiro. Eu levanto com o cobertor sobre a face para imaginar que ainda é madrugada, para que eu não me encontre com o relógio, não ache os chinelos e sinta a cama me pedindo para voltar. Eu levanto sem pijama para que ela tenha dó de mim e me peça para manter a porta do quarto trancada. Eu durmo de costas para a janela para estreitar a amizade com o lado de lá da cama. Eu levanto pela manhã de olhos fechados pedindo para que o sol espere um pouco mais para me dar bom dia.

Eu bebo café antes de escovar os dentes para mastigar a noite anterior com manteiga. Eu como a noite de ontem para saber que não a perdi dormindo. Eu a levo comigo quando saio de casa para o trabalho na incerteza de que irei encontrá-la na hora de voltar.

Eu caminho até o metrô me despedindo do canteiro de flores e da obra do funileiro Alemão no carro vermelho. Digo olá emitindo som de adeus com o balançar do cabelo ainda molhado. Mudo para o outro lado da rua passando entre os carros enfileirados e pensando como seria o nome verdadeiro do Alemão. Nunca nos falamos, sempre nos despedimos.

Eu entro no metrô disputando lugar na janelinha. Minha vitória é a segurança do cotovelo apoiando o rosto junto ao vidro que ignora a vida que passa do outro lado sem fazer reflexo. Meu conforto é fechar os olhos para dormir na ignorância e acordar aliviado perto do trabalho. Em dias de sorte eu sigo acordado reparando na beleza controversa das pessoas.

Eu chego ao trabalho com a missão de sobreviver. Os papéis em cima da mesa parecem que fingem estar descansando para me atacar depois. Os e-mails em vermelho significam que a leitura é obrigatória e indispensável. A melodia de dois acordes do telefone que toca é sinal de questionamento sem opção de consulta. A voz feminina que ecoa da sala de vidro não é a da minha menina branca com sardas. O mar não é para peixe e sim para tubarões. O encontro na máquina de café é comercial no jogo da TV enquanto a bola não é reposta em campo. Os amigos da hora do almoço nunca jantaram em casa. Nossas confidências são sobre o desejo involuntário de comer a recepcionista. Na hora de ir embora o corpo vai e a mente parece que ainda está lá, desconfiando do ataque secreto dos papéis. O local de trabalho é o melhor lugar para não existir.

Eu volto para casa com as chaves presas ao peito. Elas preparam meus pulmões para outras vontades. Facilitam minhas mãos para outras palmas. Iniciam meus passos em outras definições.

Eu chego em casa rasgando a folha da porta para nascer uma nova. A folha da porta desenha e separa a brevidade do dia. Pela manhã é obrigação com dever, no retorno é possibilidade de imaginação.

Eu entro em casa sapateando o teto dos sinos. Oponho-me ao silêncio linear e temperamental da geladeira, quero a agressão da água caindo sobre a louça na pia, a transfiguração do calor e da luz da chama do fogão.

Eu mergulho contra o chuveiro para diminuir a força e a tensão, para moderar a culpa e perverter os pecados, suavizar o retorno e preparar o corpo para o dia seguinte.

Eu me espalho pela sala como música que invade a cozinha da casa ao lado. Eu me largo no sofá como livro esquecido com páginas abertas. Eu me esqueço na sala como disco dentro do aparelho. Eu me encontro nos cômodos de casa.

Eu me acalmo em casa como a almofada que dorme serena sobre o tapete.

Estar em casa é não ter o corpo em casa. Estar em casa é ter o coração mais perto da poesia.

Jânio Dias

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

De Onde Vem o Amor

(para Jou e Léo)
imagem: Juliana Araújo



“Your love is the place where I come from”

Teenage Fanclub, em Your Love Is The Place Where I Come From


Eles não precisam de muito para viver, não querem quase nada além do que já possuem. Nada aquém de pensamento positivo, do perfume sereno das flores, do instante mágico e intacto de uma fotografia, do encanto fértil da música, da verdade saliente das cores, e de simplicidade com amizade feliz.

Eles não precisam de muito, já têm um barquinho. Um cesto grande com coberta que esconde o sol e equilibra a chuva. Faz cama de sombra para o cão que nada como pato. Flutua sob as águas verdes do rio que descansa a busca do cansaço. Um motorzinho que empurra a vida para o encontro ausente do sossego. Um barquinho que têm dois bancos que transportam o corpo para a volta. O amor deles tem um barquinho fora do mar.

Eles não precisam de muito, já são donos de uma ruazinha. Uma rua pequena e estreita de mão dupla que cumprimenta a vida de estranhos transformando-os em velhos conhecidos. Um corredor humanitário que interage com as forças do meio social. Uma viela que salga o sorriso do andarilho que entrega cartas da civilização. Um portão sem calçada que se abre e adoça a imagem do forasteiro chegando. Uma passagem que é uma fenda que abraça o íntimo e a visita. Uma ruazinha que tem o chão revestido de cimento e o céu vestido de brigadeiro. O amor deles é uma ruazinha com endereço só de ida.

Eles não precisam de muito, já possuem diversas famílias. De tipos variados e de moradas diferentes. Pessoas aparentadas, herdadas ou escolhidas. De peles ou sotaques que se completam, como o sangue do simbolismo ou a aliança das veias. Como o compromisso das palavras e as línguas do coração. Como a raiz dos vocábulos e as folhas da adoção. Como o filho e a filha que ainda virão, como o pai e a mãe que sempre existirá. O amor deles é uma família formada de letras e sons que se apegam.

Eles não precisam de muito, já têm seus anéis simbólicos de casamento. Desenhos pelo corpo que os diferem, aproximam e se encaixam. Colorem e movimentam a vida da relação. Brincos pelas orelhas, nariz e sobrancelhas que se enroscam e mostram independência. Chaves para a caixa do desejo. Trancas da necessária e rigorosa lealdade. O princípio e o desfecho da composição romântica. A intenção marcada no corpo. O amor deles são desenhos e brincos que amparam o amor.

Eles não precisam de muito, possuem coisas pequenas e charmosas. Enfeites que realçam e promovem a alegria de estar. Pedras de cerejas coloridas no banheiro, um carrinho dos flinstones que é a casa do peixe barney, a gata maria luiza que faz carinho sem precisar pedir, essências naturais aromáticas que queimam e perfumam o ambiente, um pote de jujubas cor de vinho que desperta a vontade infantil de roubar balas, um colchão com muitas almofadas no piso da sala que escoram o corpo intruso, porta-retratos que são janelas para as lembranças de amanhã. O amor deles é uma casa pequena, quadriculada de listras e estampada de sol.

Eles não precisam de muito, vivem em uma ilha. Mas não uma ilha qualquer, isolada e cercada de água pelos lados, com palmeiras e pássaros cantando. O canto dos pássaros lá é o passeio tranqüilo e o retorno da saudação de bom dia. É uma ilha com moradas, com uma bicicleta com cesta com pães apoiada na entrada do bar, com ruas pequenas e sem nome para chamar de minha. O número 43 pode começar ao desembarcar do barquinho, e o 44 pode estar apenas duas retas e três curvas a frente. A calçada é o eco de seja bem vindo. Lá as ruas pertencem a todos, e mesmo não parecendo que todos vieram do mesmo lugar, os vasos de flores apoiados nas janelas das casas dão a impressão de terem o cuidado das mesmas cálidas e sofridas mãos. O amor deles é uma ilha de aconchego.

O amor vem de onde se produz amor.

Jânio Dias

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Beijos Insanos

imagem: C.St.


“O doce da loucura é teu, é meu
Pra usar a sós
Eu tenho os olhos doidos, doidos, já vi, mon cherri
Mas meus olhos doidos, doidos, são doidos por ti”

Nenhum de Nós, em Telhados de Paris



Ela disse: “Adormeça em minha boca, suspenda a minha voz, e perca-se em nossos beijos...”

Quando a beijo, não a beijo; simplesmente, morro em sua boca.

Quando não a beijo, escrevo beijos imaginários. Desenho beijos esparsos no ar. Beijo a lâmina do vento, um filete de sol, o manto azul da noite.

Beijo a contemplação da água que cai do céu. “Ainda chove por aqui... com esse tempo e com você, eu não sairia da cama. Beijo de manhã de desejos”.

Beijo a intenção material de ser causa. “Antes, na sua memória, depois no seu coração; e quem sabe, fazer parte da sua história. Beijos de sonhos que se movem”.

Beijo o perigo da salvação. “Beijar você é como se perder e não querer voltar. Beijo perdido de desejo”.

Beijo horizontes e fronteiras indefiníveis. “Daqui a pouco eu também vou deitar, e quando fecharmos os olhos e o sono vier, estaremos dormindo juntos. Beijos que atravessam cidades pra chegar a você”.

Beijo a excitação de existir. “Ainda falta muito para o dia chegar? Quero que o dia chegue logo para que eu possa beijar a vida em seus braços. Beijos inquietos”.

Beijo a nostalgia de sentir a vida amanhecer da janela. “Ainda não tive coragem de levantar da cama e você não esta aqui. Seu cheiro e nossa vontade estão por todo lugar. Beijo de olhos fechados!”.

Beijo a ardência do pulsar. “Esse beijo onde sua boca suga minha língua me deixa todo arrepiado, o coração em disparada e as pernas bambas. Beijo de língua exposta”.

Beijo a linha tênue que separa o homem do menino. “Saiba que quero estar cada vez mais perto de você. Beijos de longe, que a tornam a parte mais bela do dia!”.

Beijo a infância que ficou atrás do muro da escola. “A contemplação do seu corpo é ainda mais completa se tenho que admirar sua nova lingerie. Seu corpo embalado é ainda mais provocador e insano. Beijos insanos!”.

Beijo o movimento arrebatado e vagaroso da densidade. “Nossos corpos nus, nossos corpos colados, nossas pernas entrelaçadas, meu braço embaixo da sua cabeça, meu outro braço sobre seu peito... Não quero sonhar, quero isso tudo de verdade. Beijos avassaladores!”.

Beijo roubando vida. “Tô saindo agora... levo comigo o seu carinho, a sua dedicação, o seu companheirismo... E ainda mais: o seu cheiro, o seu gosto, a nossa vontade.... Levo você comigo para não devolver mais. Beijo sem devolução!”.

Beijo o sono que se aproxima. “Agora na cama, quarto todo escuro... Fecho os olhos e, enfim, passo a desfrutar de todo o seu corpo, outra vez”.

Beijo o doce do silêncio. “Hoje, só beijos serenos para suavizar as marcas de ontem”.

Quando a beijo, não a beijo; simplesmente, renasço em sua boca.


Jânio Dias

sábado, 6 de outubro de 2007

Cantiga para não Esquecer

imagem: Sylvia Ji, Autumn


“Oh, maybe I think maybe I don't
Maybe I will maybe I won't
Find my way this time
I hear you're calling me soon
One of these days
Some of these days, and somebody pays
It happens all the time
I'll believing, believing you wanted me to”

Magic Numbers, em
Love is just a Game


Ah se ela soubesse como ainda incita meu ser invisível com suas provocações libidinosas...
Ah se ela soubesse como encarava cada instante nosso como vida urgente e inadiável...
Ah se ela soubesse como ainda lembro do frio que subia pelas costas quando a via...

Ah se ela soubesse como não sinto mais a dormência das pernas de quando se aproximava...
Ah se ela soubesse como meu coração saltava para a garganta quando me beijava...
Ah se ela soubesse como sua boca generosa ainda permeia as curvas da minha imaginação...
Ah se ela soubesse como encararia uma surra pelo toque daqueles seios outra vez...
Ah se ela soubesse como seu sorriso sinuoso é como um feitiço aprisionador sobre meus olhos...
Ah se ela soubesse como seu olhar dissimulado ainda confunde e entorta meus passos...
Ah se ela soubesse como meus caminhos nunca mais foram estradas para o sol...
Ah se ela soubesse como o fogo que existe em mim se tornou um vulcão impetuoso...
Ah se ela soubesse como velozes e frágeis são as flores que desenhamos no corpo...
Ah se ela soubesse como eterno se tornou a saudade da cantiga dos versos que juntos cantamos...

Ah se ela soubesse... que eu sei que ela sabe.

Jânio Dias

domingo, 30 de setembro de 2007

Universo Paralelo

(para o amigo Marcelo)

imagem: Miró, El Carnaval de Arlequim


“Hoje é terça-feira
e todos meus amigos voam
com olhos de anis
com asas de fogo
e meus olhos cheios
de mágoa então”

Vanguart, em Semáforo


Já passou. Guardo um ramo de lembranças na parte esquerda do peito. Folhas suspensas no asfalto frio da memória. Grãos de areia que formam o deserto molhado da retina. O que vivi de belo preservo com o cuidado da mão leve sobre o cristal. O que vivi de belo preserva o melhor de mim no tempo.

Levo minha vida celebrando o passado e fazendo atualizações do presente. Não preciso citar na construção ligeira de um perfil o quanto já gostei de RPM ou li as letras de Guilherme Isnard como poesias. Quantas vezes me deparei sozinho em um show do Capital Inicial cantando desesperada e insanamente canções como Veraneio Vascaína ou Fátima. Não preciso contar que música em inglês para mim eram apenas Smiths ou U2 e variantes, ou quase nunca música em inglês, porque eu precisava saber exatamente o que estava sendo dito; hoje quero ter noção apenas do que sinto. Aliás, “só ouço o que me toca”. Não preciso citar minhas canções favoritas da Legião Urbana como as mais importantes da minha vida. Só preciso saber que as vivi intensamente, como quem visitou por raras vezes o parque num domingo de sol ao lado dos pais. Hoje vou ao parque ao lado de outras pessoas não menos importantes.

A minha primeira namorada foi tão importante quanto a última. Tão necessária para o que sou hoje como a professora Heliete da 4ª série. Tão fundamental para os meus dentes quanto o bochecho com flúor antes das aulas. Tão essencial para os bailinhos do ginásio quanto a prima que passou férias em casa e me beijou na boca aos 12. Eu recordo isso como um brilho eterno de uma mente com lembranças.

No universo da música construo relações de amor com o que considero que há de melhor. Minha opinião é individual e não quer fomentar verdade a quem quer que seja; muito menos fazer pose para chamar atenção. Pose é para quem não entende o movimento do próprio corpo. Passei há muito da fase de procurar a menina ideal pelos discos que ela tem em casa, hoje acredito que nossos discos precisam combinar em 25% ao menos. Não sou eu que estou menos seletivo, meu gosto restrito é que é abrangente. Uma frase emblemática como “só o rock é sobre amor” pode parecer discriminatória, mas no fundo representa apenas um elemento pessoal que alimenta e faz suscitar a paixão pela música. Considero meus gostos atuais como evoluções daquilo que conheci. Aquilo que vivi me preparou para aceitar o novo.

Não sou eu que vivo em um universo paralelo, é você querido e velho amigo, que não se dispõem a acompanhar o que nasceu e nasce após a nossa rica e perene geração coca-cola. E não me venha com a cega e ignorante resposta de que o que é produzido hoje não presta ou é tudo lixo. O entulho é formado pelo que nossos olhos não acessam e pelo que nossos ouvidos não permitem a visita. Ouvir rock da geração 00 é doar sabedoria em troca de energia e jovialidade. É como sentir o frescor do corpo de uma menina.

Algumas bandas e canções serão para sempre únicas, como únicos e eternos são alguns amores. E dentre eles, velho e querido amigo, o nosso.


Jânio Dias

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Brilho Eterno

imagem: retrato de Mademoiselle Alice Guerin, de Paul Cesar Helleu.


“- Veja você, onde é que o barco foi desaguar
- A gente só queria o amor...
- Deus parece às vezes se esquecer...”

Los Hermanos, em
Conversa de Botas Batidas


“Amor eu sinto a sua falta
E a falta é a morte da esperança”

Nando Reis, em
Por Onde Andei


Ela confessa: "sinto sua falta, mas estava chateada".

E ela mal sabe como eu me sinto. Como me faz sentir. Como meus dias escureceram sem que o sol se pôr-se. Como a lua invadiu minha retina como se tomasse minha visão para si num eclipse. Como a garoa que cai sobre a estrada que passa próxima à sua casa parece uma tempestade para atravessá-la. Ela mal sabe o quanto me faz falta.

Como faz falta seu sofá salmão desfiado pelas gatas, suas gatas brincando de adagas voadoras pelo apartamento, seus nomes perfeitos de filhas que não teremos, as brincadeiras de provocar até sangrar os arranhões e seus carinhos para suavizar o ardor provocado pelo fim da folia.

Como faz falta ficar em pé em frente à sua janela olhando para o vazio da linha de trem que divide o bairro. A luz cor amarelo-avermelhada que invade a sala quando o dia se vai. As luzes das casas e dos carros enfeitando ao longe a paisagem como lâmpadas em árvores de natal.

Como faz falta o entusiasmo e serenidade que produzia em mim ao tentar lhe mostrar uma banda nova para logo em seguida ouvirmos a mesma velha canção. Como faz falta saber que depois de algum tempo ela descobriria aquela banda e não ouviria outra coisa por semanas, que faria suas viagens de ônibus ouvindo a nossa invisível trilha.

Como faz falta não termos realizado o sonho de morar perto para ir ao parque ou ao mercado juntos, fazer ioga ou tarô, jogar sinuca ou palitinho, assistir dvd’s ou copiá-los, ir à exposição dos dinossauros ou à feira de ciências da 4ª série B, ensiná-la a beber cerveja ou descobrir por quem pintou os cabelos.

Como faz falta nossas conversas que começavam no silêncio dos toques dos dedos sobre as mãos, que se estendiam sem rumo ou sentido pelo mistério de não saber como voltar; como faz falta nossas conversas que se afugentavam no encontro do olhar que nos avisava do perigo de não tentar.

Como faz falta seus cabelos vermelhos esvoaçados como o da foto do deserto de sal, sua pele branca como de renda que ainda formam desenhos no meu olhar de refém, o gosto do algodão cítrico de sua boca que ainda permeia minha memória, o sorriso que encanta no olhar da menina que conheci virgem e já vislumbrava mulher.

Como faz falta ficarmos sozinhos relembrando os dias que não ficamos juntos, como éramos íntimos sem sermos amantes, como éramos amigos sentindo desejos mútuos, como dividíamos o colchão como quem reparte um prato de comida para dois.

Como faz falta lembrar do gosto de nunca tê-la tocado.

Como faz falta esquecer como é amá-la sem estar presente.

Como é difícil sentir a ausência de viver tão perto.


Jânio Dias

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Um Blog para...

Imagem: por mim mesmo, dezembro de 1997.
kkkkkkkkkkkk
kkkkkkkkkkkk
“But each night, I bury my love around you...
Oh each night, I bury my love around you...
You're linked to my innocence”

Interpol, em Say Hello To The Angels


Um blog para... chegar em casa mais cedo, para sair do trabalho mais cedo, para ler mais em casa, para escrever mais em qualquer lugar; para ficar com o olhar parado e perdido no vazio do trabalho e do metrô enquanto volto para casa; para celebrar o amigo, pensar na amiga, para fazer novos amigos; para me preocupar com epígrafes que adornam e complementam o texto escrito, ou que apenas eu saberei o porquê; para entrar em contato com o mundo fantástico das imagens, e visitar sem querer obras e museus sem ter que passar por filas de aeroportos; para abrir um dicionário de sinônimos e visitar o aurélio, para procurar em alguma gaveta aquela relação impressa com o uso dos “porquês”; para contar as memórias da infância como a criança que está brincando de imaginação; para continuar alimentando os sonhos da adolescência como quem alimenta a ilusão que seu time será campeão na próxima estação; para não confiar no poeta que disse que escrever dói, a dor é descobrir que não será lido; para o meu amigo poeta sentir vontade e necessidade de escrever, para que eu possa reproduzi-lo aqui também; para dissimular a tímidez, ludibriar a solidão e disfarçar a loucura; suprir o esquecimento, desvendar a ausência, estimular minha incoerência; para expandir o que há de bom em mim, para expelir o que há de mau em mim; para uma amiga com tempo livre pensar na possibilidade de ter o seu blog, para saber que ela irá vir aqui me ler; para contar a história de alguém em primeira pessoa, para fazer dela a minha história, para viver a sua vida; para falar em terceira pessoa sem descartar a possibilidade de ser eu mesmo, para confundir o mais íntimo, para por em dúvida o mais distante; para eu ser vários de mim e me transformar em outros; para a música ser poesia, e para a letra encontrar uma canção; para dizer publicamente à alguém que eu a amo, para que ela saiba que a amei; para eu não contar para ninguém no trabalho que tenho um blog, para não diluir a possibilidade da surpresa ao ser questionado – e do espanto de quem pergunta - : “você tem um blog?!”; para sentir a pressão e angústia de não saber se conseguirei escrever o próximo post, para sentir o alívio e orgulho de ter escrito um novo post; para seduzir a mulher desejada, para conquistar uma nova mulher, para homenagear a mulher amada, para reverenciar a possibilidade de amar a mesma mulher; para ter certeza de que tudo é improvável, e relativa é a minha falta de tempo e criatividade; para manter a certeza máxima da afirmação feita pelo Bidê ou Balde: “Se sexo é o que importa, só o rock é sobre o amor”.

Um blog para diminuir o tamanho do sentido e aumentar a sensação de estar. De festejar o amigo, a amiga, as meninas de quinze anos, as mulheres de 29, a banda, a lenda, a sua canção, a nossa música, as descobertas, os cobertores, as caminhadas, os caminhos, os encontros, os ombros, os sabores, os desencontros, a tensão, o tesão, as casas, as asas, os casais, a família, os filhos, as mães, os pais, os pães, as viagens, as virgens, as conspirações, as contradições, as sementes, os ventres, os frutos, os puros, os putos, as intenções, as pretensões, as concordâncias, as dissonâncias, as paixões, as ilusões, as alegrias, os choros, as fotos, os pólens, os êxitos, os êxodos, os beijos, os poemas, os abraços, os textos, a juventude, os shows, as estórias, a amizade...

Um blog para estreitar as metáforas entre as pessoas e alongar o significado da palavra.

Da palavra amor.

Jânio Dias